Stéfano Frontini

Pitch de Startups Canadenses e comparativos com o potencial brasileiro

Written by Stéfano Helou Frontini | 08/03/24 15:39

Entenda como o Canadense faz pitch e seus diferenciais.

Recentemente, tive o privilégio de participar de um evento de fundraising de startups canadenses durante a Semana do Empreendedorismo da Universidade de Toronto. Com mais de 100 startups inscritas, apenas 10 foram selecionadas para apresentar seus pitches diante de três árbitros do ecossistema: Tanay Delima, Maura Campbell e Nishant Raizada. Essa experiência proporcionou insights valiosos sobre as abordagens canadenses, os quais compartilho aqui, traçando paralelos com o cenário brasileiro de startups.

Como foram os Pitches Canadenses? Eram sessões de 3 min de apresentação cada


Os empreendedores canadenses foram desafiados a seguir uma estrutura clara em suas apresentações, abordando tópicos cruciais:

  • Articulação clara do problema, evidenciando fatores negativos versus soluções, apoiados por dados e custos médios.
  • Apresentação da solução 
  • Apresentação de um plano/roadmap, incluindo contratos e parcerias, destacando a importância e impacto no mercado.
  • Apresentação de trações, sucesso financeiro e marcos alcançados.
  • Exploração do potencial e escalabilidade do negócio.
  • Visualização do mercado/cliente-alvo (TaM, SAM, Som).
  • Destaque para as habilidades da equipe e habilidades de comunicação.

Ao final de cada apresentação, um Q&A rápido de 3 minutos proporcionou perguntas desafiadoras, abordando desde os maiores riscos até questões regulatórias e de privacidade.

O que me marcou? O diferencial dos canadenses

O que mais chamou minha atenção foi o elevado nível técnico das startups canadenses. Tanto os empreendedores quanto os investidores e membros dos conselhos das startups eram especialistas, muitos deles com PhD na área. Suas trajetórias acadêmicas destacavam não apenas pesquisas e artigos, mas uma profunda dedicação à especialidade na construção de produtos e soluções. As apresentações eram tecnicamente ricas, com dados, gráficos e evidências quantitativas.

Por outro lado, senti falta de uma conexão entre a parte acadêmica/técnica e a garra empreendedora característica dos brasileiros. O mix entre ambas as culturas poderia gerar empreendedores ainda mais completos. Um ponto marcante foi a vencedora, que não apenas possuía a expertise técnica, mas dedicou 15 anos ao conhecimento sobre despoluição da água, trazendo uma conexão emocional com sua história e paixão em solucionar a dor em seu pitch. Ela não apenas apresentou uma solução técnica, mas envolveu a plateia com uma narrativa cativante, conectando o lado de negócios com seu projeto de vida.

Minhas conclusões

Na verdade, o que senti falta foi realmente conectar a parte teórica acadêmica com a prática. Não basta ter apenas conhecimento acadêmico; é crucial mostrar que você foi para o campo, para o mercado, vivenciou, experimentou, tentou montar uma empresa e enfrentou desafios. A valorização dessas experiências, mesmo quando resultam em testes e falhas, é o que diferencia empreendedores que realmente tiveram resiliência em fazerem acontecer.

Além disso, as apresentações foram predominantemente técnicas, carecendo de um apelo mais comercial e de um design atrativo. A falta de emoção nas anotações e a conexão visual pouco envolvente deixaram a desejar. Em um ecossistema global competitivo, é essencial não apenas ser técnico, mas também vender a ideia de forma emocionalmente impactante.

A vencedora ganhou $40.000, a segunda colocada $20.000 e a terceira $10.000. Vale ressaltar que o evento era parte de um programa dentro da Universidade de Toronto, proporcionando capital de fomento sem compromissos ou dívidas, um verdadeiro estímulo ao ecossistema.